Em meados de agosto, uma notícia caiu como uma bomba no bairro Lami: a gestora da Reserva Biológica do Lami José Lutzenberger, a bióloga Maria Carmem Bastos, e seu sub-gerente, Osmar Oliveira, dois profissionais extremamente qualificados e integrados à comunidade local, haviam sido transferidos, repentinamente, para um setor de fiscalização dentro da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Sustentabilidade (SMAMS). Sem nenhum tipo de aviso prévio ou consulta aos Conselhos das Unidades de Conservação e aos moradores da região diretamente afetada pela decisão.
De imediato, a comunidade local começou a se articular contra a mudança, reunindo moradores, entidades ambientalistas e comunitárias, alguns políticos e veículos de mídia para o protesto. A mobilização teve início com a adesão de instituições locais e de outras regiões que se organizaram como Coletivo Causas Comunitárias do Lami e foi ganhando o apoio de outras entidades, como o Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (INGÁ), a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN), o Instituto Econsciência, o Programa Macacos Urbanos da UFRGS, o Centro de Estudos Ambientais (CEA), o Núcleo de Ecojornalistas (NEJ), a Associação de Moradores do Lami e os movimentos Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente (MoGDeMA), Justiça e Direitos Humanos (MJDH), Preserva Zona Sul, Preserva Belém Novo e Preserva Arroio Espírito Santo. Segundo Ana Felícia Trindade, do Coletivo Madre Sierra, o motivo para a repentina e inadvertida transferência dos profissionais poderia ser uma retaliação pela forte atuação de ambos em questões ambientais e de invasão de terras indígenas na região.
Vitória parcial, mas importante para a continuidade do trabalho
Inicialmente, uma petição on-line foi criada e um abraço simbólico da reserva reuniu cerca de 100 pessoas na manhã do dia 23 de agosto. Em nota, a SMAMS já havia dito que o ”remanejo dos servidores, além de atribuição inerente aos gestores, visa à melhoria dos serviços oferecidos à população”, dando a questão por encerrada. Então, um grupo montou vigília, a partir de 24 de agosto, em frente à unidade e à sede da SMAMS. A queixa era de que, além da transferência dos servidores, havia rumores que a nova diretora da Reserva do Lami seria uma arquiteta, que não teria a formação nem os conhecimentos necessários sobre flora e fauna para gerir uma Unidade de Conservação. Após alguns dias de pressão e vígilia, a notícia boa veio ainda na mesma semana, no dia 28 de agosto: Maria Carmem não seria mais substituída e continuará sendo diretora da unidade, dividindo-se entre a Reserva Biológica do Lami e o setor de fiscalização para o qual fora direcionada, garantindo que o trabalho construído ao longo dos anos tenha continuidade.
No entanto, Osmar Oliveira segue transferido para o setor de fiscalização e afastado da Reserva Biológica do Lami, mas a comunidade e as entidades que conseguiram essa primeira vitória prometem não desistir e permanecer lutando não apenas por essa, como também por outras causas que envolvam as unidades de conservação, o meio ambiente e o diálogo permanente da Prefeitura com a comunidade.