Tomar banho no local novamente é um desejo antigo da população
Em meados de fevereiro, o Correio do Povo publicou matéria noticiando o desejo do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) de tornar a praia de Ipanema, na Zona Sul de Porto Alegre, novamente balneável, coisa que não acontece desde a década de 70. Segundo a diretora de tratamento de água e esgotos da autarquia, Joicineli Fagundes Becker, embora seja um projeto de longo prazo, a ideia é que a orla de Ipanema tenha águas tão limpas como em Belém Novo e Lami, no Extremo Sul da Capital: “Estamos retomando o monitoramento que já existia em outros momentos, para que nós tenhamos um histórico dos pontos que são mais propícios aos banhistas e que se possa verificar quais intervenções devemos fazer; já que grande parte do investimento em estrutura já existe. É um trabalho que vamos focar ao longo de 2023”.
Para esse sonho se concretizar, o Dmae precisará dar mais atenção à qualidade dos arroios da região de Ipanema, pois, ao longo do caminho até o Guaíba, as águas vão sendo contaminadas com esgoto e outros resíduos dos mais variados tipos. Dois dos principais parâmetros que são monitorados para a classificação e a emissão do relatório de balneabilidade, definindo como pontos próprios ou impróprios para banho, são o pH e, especificamente, a presença da bactéria Escherichia coli, indicador de contaminante fecal. Para devolver a condição de balneabilidade para Ipanema, serão necessárias diversas ações na área de estrutura de coleta de esgotos, especialmente em áreas classificadas como subnormais ou irregulares. Fatores como a própria geografia da região e a distância das áreas poluídas, além da presença do saneamento, são determinantes para a qualidade da água. Joicineli afirma que “temos que expandir ao máximo o saneamento no sentido de ligações de rede, dragagem, tratamento e melhoria dos arroios para que nós consigamos ter o máximo de pontos na orla do Guaíba balneáveis. Temos uma região tão bonita na Zona Sul, e vamos continuar trabalhando para promover saneamento com eficácia”.
Ela também explica que o histórico de medição na praia de Ipanema não aponta a estabilidade da qualidade da água: “Para que eu diga que um ponto é balneável, eu tenho que ter um histórico de, no mínimo, cinco semanas de acompanhamento. O que a gente verifica em Ipanema é que tem dois ou três resultados positivos e depois eles saem um pouco da curva. Então, eu não tenho como garantir a qualidade do banho”.
Embora o Projeto Integrado Socioambiental (Pisa), o maior conjunto de obras de saneamento da história de Porto Alegre, com investimento total de R$ 672,9 milhões, tenha ampliado a capacidade de tratamento de esgoto doméstico para 80%, atualmente apenas 57% do esgoto é tratado, já que muitas casas não têm a rede doméstica conectada à rede coletora adequada.
Mesmo que a balneabilidade da orla de Ipanema já tenha sido prometida muitas vezes antes e que a fala da profissional revele apenas que o Dmae está monitorando a região, ver a perspectiva de desfrutar das águas do Guaíba, também em Ipanema, não é apenas reconfortante: é necessário.