Personagens da Zona Sul

Pedroso Gonçalves de Lima

Ele caminhava pelas ruas do Guarujá, enfrentando o frio do inverno ainda mais gelado pelo vento que vinha do Guaíba, assobiando entre as muitas árvores que ainda existiam no bairro. Sua proteção para o frio e a garoa da noite era uma capa preta tipo ponche, feita de feltro grosso. Naquela época, entre os anos de 1955 a 1965, o Guarujá era praticamente um bairro de férias de verão e de fim de semana, com muitos terrenos baldios e casas fechadas. Quando as crianças da região viam aquela figura ao longe, caminhando na escuridão, sentiam medo. Ele era o guarda noturno do bairro.

Enquanto muitas crianças tinham medo daquela figura de capa preta que vagava pelas noites, eu tinha orgulho dele. Era o meu avô, Pedroso Gonçalves de Lima, descendente de indígenas que criou sete filhos arrendando terras e plantando arroz em várias granjas nas cidades próximas a Porto Alegre. Na velhice, com os filhos tomando seus rumos na vida, estabeleceu-se na Zona Sul de Porto Alegre, conseguindo trabalho de caseiro em uma das casas de veraneio do bairro, onde também se tornou guarda noturno para vigiar as casas vazias. Também era um comerciante autorizado pela Prefeitura a vender lanches e refrigerantes em uma pequena tendinha no fim da Avenida Guarujá, ao lado do arroio.

Naquele tempo, o Guaíba era balneável e vinham muitas pessoas do Centro de Porto Alegre para se banhar em suas águas. Meu avô Pedroso também levava eu e meus irmãos para o lago (que, na época, era rio!), nos colocava em suas costas, na garupa, até chegar a uma certa profundidade, e assim nos ensinou a nadar. Eu gostava muito de ouvir seus causos e histórias, geralmente relatando as peripécias que dizia enfrentar durante a noite, como cachorrões, morcegos, lobisomens, mulas sem cabeça, e outras coisas fantásticas. Essa figura inesquecível que foi o meu avô também foi um personagem importante na formação do Bairro Guarujá.


Por: Adília Cruz da Silveira