Pai dos fundadores deixa um legado de apoio incondicional aos filhos na edição de O Jornalecão

Valtor, que no dia 5 de julho completaria 81 anos, começou a colaborar com o jornal desde o início e continuou apoiando até o final de sua vida

Militar de carreira, Valtor José Rodrigues da Silveira serviu no Exército até 1989, quando seus filhos, Gustavo e Guilherme, junto com outros amigos, davam os primeiros passos como editores de O Jornalecão. Nas primeiras edições, Valtor colaborava ficando responsável por imprimir os exemplares no Centro da cidade, bairro onde trabalhava no Quartel General. Naqueles tempos, fazer fotocópias (xerox) era muito complicado, pois era muito raro uma empresa na Zona Sul fazer este tipo de serviço e as crianças que começaram o jornal entre 9 e 11 anos de idade não tinham acesso a este serviço distante.

Após sua aposentadoria, a participação do pai dos fundadores como voluntário se intensificou muito, a ponto de muita gente pensar, até hoje, que ele fundou o jornal e que seus filhos deram prosseguimento ao empreendimento. Ele desenhava, emprestava a máquina de escrever quando não se usava ainda o computador, ajudava na distribuição dos exemplares, colaborava na produção das festas de aniversário do jornal, na organização da Copa O Jornalecão (torneio esportivo realizado entre 1995 e 2009), acompanhava os filhos quando precisava levar o exemplar original na gráfica, seja em Porto Alegre ou em outra cidade. Muita gente não sabe, mas antes da popularização da internet, o jornal era impresso e as fotos deviam ser coladas no modelo para que, depois de chegar na gráfica, fossem produzidos os fotolitos que antecediam à impressão.

A participação mais intensa de Valtor prosseguiu até antes do início da pandemia de covid, pois, mesmo quando a distribuição passou a ser priorizada em pontos, ele queria manter em alguns locais o sistema de distribuição antigo, com a entrega de mão em mão. Como gostava muito de conversar, sempre fazia novos amigos e reencontrava os antigos amigos nesta tarefa voluntária.

Nos últimos anos, sua participação reduziu, mas não foi paralisada em nenhum momento. Além de conselheiro, era o responsável por manter bem preservados todos os exemplares dos 37 anos do jornal, sempre embalados em plástico para manter a qualidade. Também foi sua a ideia de ter dois arquivos em locais diferentes, o que se mostrou uma providência muito importante na enchente, quando a água atingiu a sala do arquivo e chegou a centímetros dos exemplares, que mesmo, com a umidade trazida pela cheia, ficaram intactos, porque estavam bem embalados. Ainda com os exemplares do arquivo principal em risco, uma semana antes de seu falecimento, que ocorreu em 7 de junho, Valtor ainda estava fazendo seu trabalho de arquivista, revisando os exemplares do arquivo reserva, pois ainda não se tinha certeza de que o arquivo principal iria resistir.

Além de todas estas tarefas que desempenhava com muita dedicação por amor aos filhos e à comunidade, Valtor também colaborava nos momentos difíceis, quando os recursos para manter O Jornalecão ficavam escassos. Junto com sua esposa, Adília (outra colaboradora fundamental nestes 37 anos), muitas vezes usou seu próprio dinheiro para ajudar na manutenção do jornal, porque entendia a importância de sua continuidade para o bem da região. É possível dizer que, se não fosse o empenho do Valtor, a Zona Sul não contaria mais com O Jornalecão. Mas, onde estiver, pode ter certeza de nossa gratidão, carinho e amor e também ficar tranquilo que seguiremos em frente, como o porta-voz da Zona Sul de Porto Alegre.