Protesto reuniu cerca de 100 pessoas – entre moradores, estudantes, políticos e representantes de entidades ambientalistas e locais (todos afastados e mascarados devido à pandemia do novo coronavírus) – para contestar a transferência repentina de gestores da reserva
Na manhã de 23 de agosto, cerca de 100 pessoas se reuniram em frente à Unidade de Conservação (UC) Reserva Biológica do Lami José Lutzenberger, na Estrada Otaviano José Pinto, no Extremo Sul de Porto Alegre, para manifestar contrariedade com a transferência dos servidores Maria Carmem Bastos, bióloga e diretora da reserva, e Osmar Oliveira, sub-gerente, para um setor de fiscalização na Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Sustentabilidade (SMAMS). O afastamento dos servidores do local onde, desde 2000, construíram uma relação de respeito e colaboração com a comunidade não repercutiu bem junto à população. A mobilização teve início com a adesão de instituições locais e de outras regiões que se organizaram como Coletivo Causas Comunitárias do Lami. A mobilização ganhou também o apoio de outras entidades, como o Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (INGÁ), a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN), o Instituto Econsciência, o Programa Macacos Urbanos da UFRGS, o Centro de Estudos Ambientais (CEA), o Núcleo de Ecojornalistas (NEJ), a Associação de Moradores do Lami e os movimentos Gaúcho em Defesa do Meio Ambiente (MoGDeMA), Justiça e Direitos Humanos (MJDH), Preserva Zona Sul, Preserva Belém Novo e Preserva Arroio Espírito Santo. Segundo Ana Felícia Trindade, do Coletivo Madre Sierra, o motivo para a repentina e inadvertida transferência dos profissionais poderia estar relacionado à forte atuação de ambos nas questões ambientais da região e mesmo de outras unidades de conservação, como a do Morro São Pedro, denunciando, inclusive, invasões em terras indígenas. O grupo alega que a nomeação de um novo gestor, sem a experiência que Maria Carmem e Osmar acumulam, da maneira inadvertida que se deu, sem que sequer os Conselhos Consultivos das UCs fossem comunicados, soa como retaliação e traz graves prejuízos às atividades desenvolvidas em parceria com a comunidade ao longo de 20 anos.
Vigília em frente à reserva para receber novos gestores e conhecer suas intenções
Em nota, a SMAMS já havia dito que o “remanejo dos servidores, além de atribuição inerente aos gestores, visa à melhoria dos serviços oferecidos à população”, o que não convenceu moradores da região e entidades engajadas nas questões ambientais e locais. Um grupo de moradores da região montou vigília desde segunda-feira, dia 24 de agosto, em frente à unidade, para receber e poder saber quem são os novos gestores, conhecer suas intenções na reserva e esclarecer o boato de que a nova diretora seria uma arquiteta – sem experiência com a gestão de UCs ou com as questões ambientais que o cargo certamente exige. Segundo Rudinei Rodrigues de Melo, presidente da Associação de Moradores da Parada 21 do Lami, um dos presentes na vigília, uma representante da SMAMS teria estado no local e dito que a decisão é irrevogável, pois o governo é quem decide e não precisa dar explicações para a comunidade, nem para os conselhos – o que teria reforçado ainda mais o receio de que o trabalho construído ao longo de anos seja abandonado. A alegação dos manifestantes é de que, por mais que não haja ilegalidade na mudança, a falta de diálogo e de respostas para perguntas simples (como quem e por quê) abre margem para muitos questionamentos acerca da razão para transferir, assim repentinamente, profissionais tão prestigiados por sua atuação e tão reconhecidos pela comunidade. A quantidade de pessoas e entidades presentes nas manifestações (mesmo em tempos de pandemia), reclamando da mudança, também chama a atenção para o assunto.
Para ler e/ou assinar petição on-line solicitando que a SMAMS reveja, com urgência, a decisão unilateral da transferência de Maria Carmen e Osmar Oliveira, acesse o link.