São veiculadas diariamente imagens dos tiroteios entre grupos de militares e de traficantes. Pouco se evidencia o esforço para salvar as vítimas. Valorizar os que lutam para salvar vidas, onde existem confrontos armados, não se trata somente de uma falha das reportagens, constitui-se numa questão de mentalidade.
As vítimas da violência acabam nas salas de emergência do Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre, que recebe casos de emergência de um raio de mais de 200 km. Os profissionais que trabalham na emergência precisam ser valorizados, não podem ser esquecidos, desconstruídos ou ocultados, como se não fossem parte da tragédia das guerras urbanas.
Reforçar as polícias é fundamental; da mesma maneira temos que dar condições de trabalho aos cirurgiões, médicos emergencistas, paramédicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e motoristas de ambulâncias e do SAMU. Precisamos exigir mais viaturas e contingentes para as polícias, mas, com igual afinco, precisamos exigir mais ambulâncias adequadas, equipadas e mais pessoal de atendimento com a formação necessária na saúde, equipes de plantão de emergência com especialistas em traumatologia, neurocirurgia, cirurgia bucofacial, vascular, entre outros profissionais, que dão condições de atendimento aos politraumatizados. Na prática, na Capital gaúcha, estas equipes de emergência estão reduzindo e sendo precarizadas.
Urge mostrar e valorizar o que acontece depois do tiroteio. Discutir em que condições as vítimas dos tiroteios acessam os tratamentos que permitem lutar pela vida, direito básico dos cidadãos em qualquer lugar do mundo, mesmo em um campo de batalha. Quando um cidadão é vítima de um ataque à mão armada ou de uma bala perdida, precisamos trabalhar para garantir sua sobrevivência. Ao discutir mais recursos para a repressão do crime, não podemos deixar de debater mais recursos para salvar as pessoas.
Dr. Thiago Duarte
Médico e vereador de Porto Alegre