A importância do Guaíba para Porto Alegre deveria ser óbvia já pelo nome da cidade, mas a verdade é que a relação do porto-alegrense com o seu principal manancial não é tão íntima quanto se deveria supor. A razão para esse distanciamento, certamente, passa pela poluição de suas águas, mas existe – ainda que posterior – uma distância simbólica que vem se naturalizando e que pode ser traduzida na própria confusão acerca da definição correta: afinal, o Guaíba é lago ou rio?
Antes de começar propriamente a tratar do assunto, é preciso dizer que tanto Estado quanto Município entendem o Guaíba como um lago, com todos os documentos oficiais de seus órgãos seguindo esse entendimento. Mas, se analisarmos os 247 anos de Porto Alegre – e mesmo anteriormente -, veremos que, na maior parte da história, o Guaíba foi entendido como um rio, embora já existissem pessoas defendendo que é um lago – inclusive o famoso botânico e naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire.
Essa discussão não teve grandes proporções, até que, em 1958, a Associação Brasileira de Geografia publicou um estudo no qual concluía que, diferente do que se dizia, o Guaíba era um lago. A informação não teve muito impacto naquele momento, não afetando de imediato a forma com que a população se referia ao principal manancial da capital gaúcha – inclusive, os mapas feitos pela Marinha do Brasil continuaram denominando-o de Rio Guaíba por muito tempo. No entanto, a discussão estava oficialmente aberta e, lentamente, foi ganhando corpo, até que, em 1982, o Governo do Estado decide acabar com a dubiedade e, após estudos realizado por uma comissão formada especificamente para a tarefa, o Guaíba passa a ser definido, oficialmente, com lago, com todos os mapas e documentos devendo referi-lo assim a partir de então.
Mesmo que a lei tenha tentado não deixar dúvidas sobre a denominação a ser utilizada, a discussão nunca acabou de fato, com defensores de ambos os lados debatendo e apresentando estudos para corroborar tanto a tese de que o Guaíba é lago quanto de que é rio. Quando estamos na escola, aprendemos que os rios correm sempre na mesma direção, enquanto nos lagos a água fica retida sob suas margens.
Mas a discussão é bem mais técnica e profunda e, em relação ao Guaíba, existem evidências científicas tanto para ser lago quanto para ser rio. O geólogo Rualdo Menegat, coordenador-geral do Atlas Ambiental de Porto Alegre (1998, disponível em https://www.ufrgs.br/atlas/), uma das principais referências para a atual classificação, diz que o Guaíba é um lago porque a maior parte das suas águas fica retida (cerca de 85%) por um grande período de tempo, o escoamento é bidimensional e os depósitos sedimentares das margens possuem geometria e estrutura característica de sistema lacustre, entre outras características cada vez mais técnicas.
Mas, para o parecer intitulado Rio Guaíba (de maio de 2009, com atualização em 2012), dos professores Elírio Ernestino Toldo Jr. e Luiz Emílio Sá Brito de Almeida, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da UFRGS, o Guaíba é um rio porque possui um canal natural, tem a descarga de água de um rio, que, por sua vez, não fica retida em sua bacia hidrográfica, desaguando na Lagoa dos Patos (que, na verdade, é uma laguna).
Todos os argumentos dessa discussão são amparados em pesquisas altamente técnicas, e os avanços tecnológicos devem fomentar o debate com cada vez mais dados surgindo.
Embora a discussão sobre o Guaíba ser lago ou rio seja altamente técnica, uma coisa é unânime e até mesmo o mais leigo e incauto cidadão sabe: nenhum antagonismo pode se sobrepor à necessidade de reconhecermos a importância do Guaíba e lutarmos por sua preservação.
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