Ensaios para um 20 de setembro – Por Caco Belmonte


Em 1988, o ano emblemático da Constituição, quando Ulisses em Brasília cunhou a célebre e profética frase que serve para hoje, “Traidor da Constituição é traidor da pátria”, eu marchava com a fardinha do recém batizado Colégio Tiradentes da Brigada Militar, antigo 2º Grau da Brigada. Minha turma foi a última em que só haviam homens, já com o novo modelo de uniforme que vigora até hoje, mínimas alterações. Os sargentos nos levavam em velhos e bem cuidados ônibus da Brigada Militar, rumo à Zona Sul, onde ensaiávamos as marchas, horas a fio, na larga avenida ao lado do Condomínio Jardim do Sol, bairro Cavalhada.

Meu tio era coronel do Exército, reformado, e morava no referido condomínio. Eis que estávamos à tarde, marchando num ir e vir (esquerda, direita e meias-voltas), e coincidiu que a minha tia Therezinha mexia em suas plantas justo naquele horário. O pátio da casa deles fazia fronteira com a avenida.

Eu estava à frente de um pelotãozinho adolescente, segurava o pavilhão rio-grandense, e a tia desceu o barranco, veio junto à grade do condomínio e começou a gritar. “Dá-lhe, Caquinho!”.

Aquilo rendeu sacanagem de caserna por semanas. Eu entrava no refeitório, ou fazia um gol nas peladas de intervalo pós-almoço, antes do turno vespertino (sim, aulas em dois turnos, três vezes por semana), e havia sempre um gaiato que gritava imitando a minha tia: “Dá-lhe, Caquinho!”

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