O início da greve dos caminhoneiros marcou o estopim de uma bomba que ainda pode explodir em todo o país, cujos efeitos, sejam quais forem, serão absorvidos, como sempre, pelo próprio povo brasileiro. E, mesmo se for “apenas” a simples queima do pavio, as faíscas já fizeram todos serem atingidos, ainda que com intensidades diferentes.
De qualquer forma, não é desonesto dizer que os mais de 200 milhões de brasileiros foram atingidos, direta ou indiretamente, pela paralisação, mostrando o quanto nossa sociedade é interligada e dependente das dinâmicas sociais entre as comunidades nela presentes. Dependemos, necessariamente, dos trabalhos uns dos outros, o que ficou evidenciado com o efeito cascata de consequências após o início da paralisação dos caminhoneiros, como a falta de combustíveis e as grandes filas em postos de gasolina, o desabastecimento de produtos e a restrição de serviços fundamentais (como horários reduzidos no transporte coletivo e o cancelamento de aulas).
Ainda aguardando os desdobramentos da greve, diante da possibilidade de que outras categorias também se unam à paralisação, a população acompanha os acontecimentos preocupada (até com uma sensação de calamidade pública), mas, em sua grande maioria, apoiando o movimento.
A determinação dos caminhoneiros criou a necessidade de os brasileiros se adaptarem imediatamente à nova realidade de escassez, mas também possibilitou a oportunidade de parar para pensar sobre o momento histórico que vive o país.
Embora muitos dos movimentos sejam até contraditórios, entre tantas discordâncias e polarizações, um consenso vai se criando: qualquer solução para o Brasil passa, necessariamente, pelo fim da corrupção endêmica que nos assola há décadas (ou, quem sabe, até séculos). Além de retirar a capacidade de investimento do país, a corrupção fica ainda mais indecente diante da altíssima carga de impostos, que nunca para de crescer e poucas vezes se mostra eficiente em suas contrapartidas, já que muitos dos serviços públicos, historicamente, recebem críticas a respeito de sua qualidade (como a saúde e a educação), enquanto outros que já foram considerados de excelência (como os Correios) têm decaído.
Esperamos que, em outubro, aconteçam eleições para presidente, governadores, senadores, deputados federais e estaduais normalmente e, com elas, mais um chance de encontrar um rumo para o Brasil. Até lá, muita coisa vai acontecer e os efeitos da greve dos caminhoneiros e seus desdobramentos ainda estarão sendo lembrados e discutidos. Para dizer o mínimo, a greve já nos serviu para isso: lembrar que centenas de milhões de brasileiros estão juntos “no mesmo barco” e que, tanto os benefícios quanto os sacrifícios, no fim das contas, serão de todos.