O atendimento universal de pronto socorro é uma das importantes conquistas da cidadania. Os lesionados com gravidade são, na sua maioria, encaminhados para o Hospital de Pronto Socorro. Ainda que cobertos por um plano de saúde, aquele cartão sequer vai ser lembrado quando a situação é urgentíssima. Dos mais abastados aos mais simples, são atendidos pelos médicos que optaram pelas carreiras públicas do município.
Em Porto Alegre, está em curso uma sistemática dilapidação das carreiras públicas. Existem abusos de alguns que se locupletam quando investidos de um cargo dentro dos quadros do funcionalismo, proventos acima dos limites constitucionais, vantagens indevidas, entre outras situações de enriquecimento à custa do contribuinte. Estas situações devem ser coibidas, todavia não podem justificar a que se extirpe de forma irresponsável conquistas aprimoradas ao longo de décadas no esforço por gerar as condições para que vidas sejam salvas.
Atacar as carreiras dos médicos municipais, precarizando e até inviabilizando o atendimento de emergência do pronto socorro, por exemplo, não é um problema circunscrito a uma classe de profissionais. Não se trata de um embate entre patrões e empregados, ou de uma mera questão orçamentária. Alguns, por brutal falta de sensibilidade ou rarefeita inteligência, querem fazer parecer que reduzir direitos adquiridos de médicos do município ou atrasar o pagamento de salários de quem fez plantões geraria economia de recursos.
Quando um médico do HPS da capital é obrigado a escolher qual paciente encaminhar para a única sala de cirurgia em funcionamento, baseado no critério de quem teria mais chances de sobrevivência, joga-se sobre os ombros deste profissional a incompetência daqueles que desprezam a vida. Um fato precisa ficar claro para os cidadãos: mais pessoas que poderiam sobreviver irão a óbito, sendo que os impostos recolhidos de seus bolsos deveriam ter lhes proporcionado o atendimento de emergência em um pronto socorro público. Aqueles que entendem que o respeito à vida é prioridade devem levantar suas vozes pelo HPS e HMIPV, pelas carreiras médicas do município, pelas demais carreiras da saúde (odontólogos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, técnicos de laboratório, psicólogos, assistentes sociais), pelo direito de ter chance de sobreviver aos tantos atos de violência urbana que se multiplicam.
Dr. Thiago Duarte
Médico e vereador de Porto Alegre