Corriam os últimos dos anos 1980 ou os primeiros dos 1990, e certa feita o escrevinhador destas linhas — na sua versão pré-adolescente — “corria rua” pelo Espírito Santo após ter deixado os adultos entregues aos seus assuntos (a sua mãe estava em visita a amigos de longa data, um casal morador da Rua Cirino Prunes); durante tal perambulação pela região, o nosso desbravador mirim descobriu que jazia na Praça Federico García Lorca uma enorme estrutura metálica assemelhada a um trilho nivelado de montanha-russa assentado sobre altas colunas, equipamento cuja adiantada deterioração não lhe conseguira corroer o fascínio, nem lhe desvelava a misteriosa origem.
Poderia ter sido uma daquelas lembranças fadadas a esmaecerem até que inexoravelmente se apagam… entretanto foi surpreendentemente salva das garras do implacável esquecimento há poucos dias por uma reveladora postagem no Facebook: tratava-se de um pequeno histórico do Aeromóvel — o famoso e controverso projeto de transporte coletivo baseado em propulsão pneumática (i.e. movido a ar) do engenheiro aeronáutico pelotense Oskar Hans Wolfgang Coester (1938-2020) — no qual se rememorava a construção do segundo protótipo do veículo na Estrada da Serraria em 1979, com capacidade para levar 15 passageiros para lá e para cá pelos 500 metros da pista; o experimento na Zona Sul seria sucedido em Porto Alegre pelas edificações da “Linha Piloto” Avenida Loureiro da Silva – Usina do Gasômetro — concluída em 1987, todavia nunca operada efetivamente — e da linha entre a Estação Aeroporto do TRENSURB e o Aeroporto Internacional Salgado Filho — em atividade desde 2013.
Aquele jovem descobridor apresentado no início da coluna — agora na sua versão quarentona — compartilhou satisfeito a postagem que simultaneamente devolveu-lhe uma apagada lembrança e proporcionou-lhe a revelação do mistério por ela contido, recebendo comentários de dois moradores do Parque Lavoura à época do desbravamento relatado inicialmente: ambos recordaram que a gurizada se reunia para explorar as estruturas do abandonado protótipo do Aeromóvel e se aventurar na temerária escalada das suas colunas. E todas as aventuras narradas até agora foram precedidas pela aventura do Engenheiro Coester em busca da realização de um antigo sonho.
Vagner Debom Eifler, tem 41 anos e viveu as suas primeiras duas décadas entre a Ponta Grossa e a Vila Nova; é bancário do Banrisul, estudante do curso de Bacharelado em História da UFRGS e responsável pelos projetos culturais Histórias da Ponta Grossa e Antiga Estação Transmissora da Rádio Farroupilha.