Pelo fato de, na época, serem equiparadas a incapazes ou a seres inferiores, as mulheres que ousaram, no dia 8 de março de 1857, reivindicar redução em sua carga horária e uma melhor equivalência salarial com os homens, foram covardemente reprimidas e, daquele grupo, na civilizada cidade de Nova York, 129 delas morreram queimadas.
É chocante?… Claro! Mas permita-me perguntar (pensar não dói): Você se choca com as surras homéricas diuturnamente narradas em programas radiofônicos ou descritas em jornais cujos protagonistas são os “rambos de cozinha”?
Um dia isso vai acabar, inclusive o riso debochado de ouvintes mais debochados que seu próprio riso. Talvez leve algum tempo. Como tempo levou a inteligência humana para oficializar, 118 anos depois, o gesto de nossas heroínas titulares – a ONU oficializou, em 1975, o dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher.
Para seu governo, querido leitor ou leitora, você sabia que, até o dia 27 de agosto de 1962, aqui, no Brasil, uma mulher casada, com formação universitária – médica, engenheira, advogada, etc – só podia exercer a profissão com o consentimento “por escrito” do marido?
Para dar um exemplo deste histórico tratamento desigual em outras partes do mundo, de agosto de 1990 até a rendição dos iraquianos no conflito no Golfo Pérsico, as atenções voltaram-se às proezas dos americanos e seus aliados, à irascibilidade de Saddam Hussein, aos lances de xadrez na busca rápida de vitória e às cenas que imitavam as batalhas diárias de nossos filhos à frente dos televisores operando seus videogames. Mas, e as mulheres? Ah… as mulheres. Pasmem, pelo menos 5 mil mulheres, em todo emirado do Kwait, sofreram violências sexuais e, delas, mais de mil tornaram-se mães. Muitas suicidaram-se antes de dar à luz, outras, que provocaram aborto, ficaram sujeitas a penas que variam de 10 a 15 anos de prisão (o aborto, lá, é castigado rigorosamente). Às demais foi reservada a marginalização, como se culpadas fossem, pois foram expulsas de seus lares por gerarem crianças consideradas “inimigas”, restando a grande parte delas a prostituição, sua única possibilidade de sobrevivência.
Considerar este artigo drástico ou agudo seria próprio dos que reconhecem as qualidades da mulher apenas em datas e ocasiões propícias, sem se importar com a realidade e a posição por elas ocupada; menos pior do que foi, mas que ainda não atinge o ideal.
Mulher, creio que plausível seria, se alexandrinos, bem medidos, floreassem esta coluna, enaltecendo tua data e tua luta. No entanto, aproveito a ocasião, como bom filho da mãe e homem bem amado, para reconhecer que, dentro de teu peito, há uma centelha capaz de transformar-se em incêndio, o qual dominas, com altruísmo e certeza de melhor futuro, para nos ensinar o significado e a viver o amor.
Por Nélio Waldomiro Ostjen, morador do bairro Cavalhada