Existe crise, de diferentes tipos. No caso da prefeitura de Porto Alegre a crise é conjuntural, não é estrutural. Não se trata da inviabilidade econômica da prefeitura. Trata-se de um conjunto de situações que tornam a gestão mais desafiadora. Ao observarmos os fatos públicos fica evidente que existe dinheiro no caixa da prefeitura. A Controladoria do Município aponta mais de 162 milhões de superávit para 2017. O contexto superavitário se confirma quando vem a público que a prefeitura gasta em comerciais de TV em horário nobre mais de 5 milhões de reais, que gasta em um único contrato de aluguel de prédio mais de 3 milhões, sendo só o condomínio desta área de 45 mil reais ao mês, quando distribui outros 5 milhões entre veículos de comunicação para divulgar políticas de saúde.
A pior crise pela qual passa a prefeitura, e que se reflete na cidade, é a crise de valores, é a crise de respeito pela cidadania, a crise de respeito pela infância.
Me refiro ao fato de que a prefeitura gasta estas vultosas montas em prédios de luxo e comerciais em canais de TV, mas não paga desde janeiro o aluguel da sede do Conselho Tutelar da Restinga e Extremo-Sul. Estes conselheiros recebem constantes visitas do dono do prédio onde trabalham, que ameaça colocá-los na rua. Os conselheiros ainda não sabem para onde vão.
Gestões públicas ou privadas que não conseguem priorizar o que é mais ou menos relevante perdem o foco de sua atividade, entram em crise e agudizam crises. Um governo municipal que não percebe que as crianças são prioridade promove a crise, reproduz e perpetua modelos de crise. Na Restinga 80% das demandas dos Conselheiros Tutelares são motivados por violência sexual contra menores, que é o tipo de crime que mais cresce na Capital. Mas isto não é prioritário para setores do governo municipal, assim a sociedade fica mais violenta, desumana e mergulhada na crise.
Dr. Thiago Duarte
Médico e vereador de Porto Alegre