Por volta de 1958, no bairro Espírito, foi criado o Loteamento Vila Esplanada. Os terrenos foram comprados e deu-se início à construção das casas pelas famílias que chegavam, tornando-se vizinhas e amigas. Com o tempo, os novos moradores perceberam que seus filhos não tinham uma praça para brincar e praticar esportes. Apesar de constar na planta do loteamento uma área para esta finalidade, a praça não havia sido realizada. Então, em 1984, quatro senhoras moradoras (Felícia Andrioti, Nelsa Kalata, Emília Machado e Cecília Brocardo de Lima) resolveram lutar pela praça planejada para acolher seus filhos e, também, para evitar a invasão da área. Fizeram um abaixo-assinado e, com o apoio do secretário estadual da Justiça na época, Jarbas Lima, chegaram até o então prefeito, João Antonio Dib, solicitando a efetivação imediata da obra. Foi criado, então, o grupo AME (Associação dos Moradores da Vila Esplanada), que aprovou a planta da Praça Lagos apresentada pela Prefeitura.
Em 11 de maio de 1985, foi, enfim, inaugurada a praça, com 1,3 hectare de espaço de lazer e cerca de 0,5 hectare de área preservada, já que continha vertentes. Foi constituído, também, o grupo Patrulheiros do Verde, com o apoio da Prefeitura Municipal, formado por crianças a partir de 7 anos de idade, orientadas pelo casal de professores moradores do local Cecília e Clóvis Brocardo de Lima, objetivando a valorização da natureza.
E aí começou outra luta: a reivindicação da decretação oficial de parte da Praça Lagos como Área de Preservação Permanente (APP), através de declaração em forma de lei, com o objetivo de não permitir construções na área.
Mas o tempo foi passando sem a conquista deste objetivo. Em 2010, o grupo enviou ofício ao prefeito da época, José Fogaça, e também ao Ministério Público e à Promotoria do Meio Ambiente, reivindicando providências em relação ao assunto. Foi neste período que surgiu o movimento SOS Praça Lagos, formado por moradores da região com o objetivo de conquistar as desejadas melhorias.
Com o passar do tempo vários integrantes do grupo mudaram de bairro. No entanto, os professores Cecília e Clóvis continuavam com a luta, inclusive contando com o apoio de O Jornalecão na divulgação dos acontecimentos.
Em 2019, um projeto do ex-vereador André Carús para criação de uma APP foi aprovado pelos vereadores na Câmara Municipal de Porto Alegre e, posteriormente, a lei criando a APP em parte da Praça Lagos foi, finalmente, sancionada pelo então prefeito Nelson Marchezan. Na época, a informação não teria chegado ao conhecimento dos líderes comunitários personagens principais desta história de luta da comunidade. Com a pandemia de covid-19, que se estende há mais de dois anos, Clóvis e Cecília acreditaram que as dificuldades enfrentadas por toda a população seriam uma barreira a mais para a criação da tão sonhada APP. Recentemente, procuraram O Jornalecão com o objetivo de tratar de assuntos da Praça Lagos. A equipe do jornal buscou informações atualizadas e teve o prazer lhe informar, para a alegria do casal, que a lei 12.595, de 10 de setembro de 2019, havia declarado como Área de Preservação Permanente uma parcela da Praça Lagos.
Parabéns professores Cecília e Clóvis e demais moradores que se engajaram nesta missão! Sua luta incansável, finalmente, rendeu os frutos desejados, servindo de exemplo para a comunidade de como é importante manterem-se firmes nos propósitos e manter a mobilização até que os objetivos sejam alcançados.