Com a redemocratização, novos jornais de bairro entram em cena nos anos 80

70 anos dos jornais de bairro de Porto Alegre (1954 – 2024)

Após as duas experiências de Odemar Marino Ferlauto, que lançou, no bairro Ipanema, O SABIdo (pela Sociedade Amigos dos Balneários de Ipanema – SABI), em 1954, e Colmeia (pela Associação Social e Cultural de Ipanema), em 1967, houve um intervalo de mais de 15 anos sem a circulação de jornais de bairro em Porto Alegre. Somente em 1984, mais de 30 anos após a fundação do primeiro periódico deste tipo ter sido lançado, os primeiros empreendedores começaram a lançar novos jornais de bairro, coincidindo com a diminuição da censura, a redemocratização e a interrupção temporária na circulação do jornal diário Correio do Povo, após a falência da Empresa Jornalística Caldas Júnior, que deixou muitos jornalistas desempregados, motivando-os a buscar novas oportunidades.

E coube novamente ao bairro Ipanema a honra de ser o local de lançamento do terceiro veículo comunitário deste tipo, O Bairrista, por iniciativa de André Jockymann e Assis Hoffmann, que circulou por dois anos, consolidando a Zona Sul como berço dos jornais de bairro. Também em 1984, começaram a surgir jornais de bairro em outras regiões da cidade, entre eles, Humaitá e Cidade Norte, na Zona Norte da cidade.

Ainda na década de 80, o número de jornais de bairro cresceu rapidamente, sendo que um deles circula até hoje e alguns dos demais mantiveram-se em circulação por mais de 20 anos. Foi neste período que surgiram veículos conhecidos, como O Cristóvão, da Associação Cristóvão Colombo, lançada em 1985 e que manteve-se em atividade, no bairro Floresta e arredores, por mais de 30 anos, seguindo a antiga receita dos jornais de bairro das décadas de 50 e 60 de estar vinculado a uma entidade comunitária. Nesta mesma década, jornais de bairro que tiveram longa duração começaram a surgir em bairros das regiões central e norte da cidade, entre eles o Alto Petrópolis e o , editado pelo jornalista Elmar Bones da Costa e que constitui-se na primeira experiência de profissionalização deste tipo de periódico, mantendo as características fundamentais, como assuntos comunitários e circulação gratuita, mas implantando uma forma mais comercial de desenvolvimento do jornal, com equipes de vendas e colaboração de jornalistas renomados.

Apesar deste florescimento dos jornais de bairro em outras regiões da cidade, a Zona Sul teve muitos jornais na década de 80, sendo o local mais fértil para o seu desenvolvimento. No final do ano de 1989, a região já contava com, pelo menos, quatro periódicos que se intitulavam comunitários: O Jornalecão, CS Zona Sul, Destak e Momento. Um deles, inclusive, teve um princípio bem diferente dos demais, que já foram lançados por adultos. Diferentemente de todos os jornais de bairro lançados até aquele momento (e de todos os que foram lançados posteriormente), O Jornalecão surgiu como um veículo criado por crianças do bairro Guarujá que queriam juntar dinheiro para melhorar o campinho de futebol da rua Oiampi. Em 10 de maio de 1987, Gustavo Cruz da Silveira e Cristian Stein Borges, ambos com 11 anos de idade, uniram-se aos seus irmãos de 9 anos – Guilherme Cruz da Silveira e Denis Stein Borges – para lançar o jornal feito a mão e fotocopiado, que vendiam para os vizinhos. O apoio da comunidade foi tão expressivo desde o início que, em poucos anos, o pequeno jornal passou a circular em outros bairros próximos e viu sua tiragem aumentar exponencialmente quando passou a ser distribuído gratuitamente e ser financiado por anúncios do comércio local, fórmula adotada por todos os outros jornais de bairro anteriores e posteriores.

Leia na próxima edição: Com apoio do poder público, jornais de bairro proliferam-se em Porto Alegre na década de 90