A pouca chuva e o calor dos primeiros meses do ano fizeram com que o nível de volume de água baixasse, expondo uma triste realidade: a quantidade de lixo nas margens do Guaíba. Pneus, colchões, roupas, calçados, madeiras, latas, garrafas, plásticos, sacolas e todo tipo de resíduo, descartados de forma irregular, presos aos galhos da vegetação da orla, deixaram à mostra os resquícios do descaso de parte da população.
Por que isso acontece?
Existem muitas razões para o principal manancial da capital gaúcha estar poluído, desde a sujeira dos rios que o formam (três dos cinco principais rios que formam o Guaíba estão entre os mais poluídos do Brasil), passando pelo despejo de esgoto doméstico e de detritos industriais, além do descarte irregular de lixo às suas margens ou nos 27 arroios espalhados pela cidade. Embora menos perigosos para os seres humanos que os resíduos líquidos, que se diluem na água, os resíduos sólidos são visíveis, além de prejudicarem a fauna e a flora.
O fato é que, seja o esgoto doméstico, os produtos químicos vindos da indústria e da agricultura ou o simples papel de bala jogado no chão, toda a sujeira descartada indevidamente na capital gaúcha tem um destino certo: o lago Guaíba.
O que fazer?
Para a situação chegar a este ponto, não existe apenas um responsável. O poder público precisa fazer e fiscalizar leis de proteção ambiental e punir exemplarmente os infratores, enquanto a iniciativa privada deve buscar alternativas sustentáveis para sua cadeia de produção e a população deve ficar atenta, pois é através de suas escolhas (seja pelo voto ou pelo consumo) que são tomadas decisões importantes, na iniciativa privada e também por órgãos públicos. Se estivesse limpo, seria muito mais fácil aproximar a população do Guaíba, mas, diante da nossa realidade, a urgência é maior. Como a população não pode tomar banho nem praticar esportes na maior parte de suas águas, a relação com o Guaíba permanece distante, piorando a cada geração que cresce sem ver esse cenário mudar.
Segundo Jean Pico, autor da série de quadrinhos Turma do Guaíba, produzida em parceria com O Jornalecão e criada como estratégia para valorizar o manancial, “as crianças que não tiveram a oportunidades de tomar banho no Guaíba estão crescendo sem acreditar que é possível desfrutar do manancial, e isso é muito perigoso, pois, assim, elas se engajarão menos em sua recuperação”. Qualquer resposta para o problema da poluição do Guaíba, não importa a esfera em que ela ocorra, passa pela conscientização, pelo reconhecimento da importância da educação e do cuidado com os nossos mananciais.