Ao cobrir ação da Brigada Militar (BM) durante ocupação de estudantes no prédio da Secretaria da Fazenda do RS, em meados de junho, o jornalista Matheus Chaparini, do Jornal JÁ, foi detido e acusado de estar, segundo nota da Secretaria de Segurança do Estado, “dentro do prédio invadido, agindo como integrante do grupo militante que praticou a invasão”, alegando que Matheus só “se identificou como jornalista quando já estava consumada a prisão pelo ato de invasão”. No entanto, um vídeo feito pelo próprio jornalista refuta essa versão e demonstra, além da truculência policial contra os estudantes, o repórter se identificando mais de uma vez. O vídeo comprova também que, o tempo todo, Chaparini estava apenas registrando os fatos, diferente do que consta no boletim de ocorrência feito pela BM, que o enquadrou como manifestante e o autuou em flagrante por dano ao patrimônio, resistência, associação criminosa, esbulho possessório (porque a ocupação se apropriou do imóvel), corrupção de menores e crime contra organização de trabalho. Na ocasião, Matheus foi encaminhado ao Presídio Central, onde ficou detido até a madrugada do dia seguinte, quando obteve liberdade provisória para responder ao processo.
Mesmo com a repercussão negativa do caso e das manifestações de inúmeras entidades em apoio à defesa do exercício da profissão de jornalista e de Matheus — o próprio jornal JÁ, para o qual estava trabalhando na ocasião, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do RS (Sindijors), a Associação Riograndense de Imprensa (ARI), a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), entre outras —, o entendimento assumido pelo delegado, de que Chaparini também era um manifestante, foi mantido pelo promotor e pela juíza que receberam o caso e, agora, o jornalista tornou-se réu perante a justiça.
Em comunicado oficial, a ARI lamentou a decisão do Ministério Público (MP) em denunciar o jornalista, lembrando que o profissional estava no exercício das suas atividades profissionais e pedindo que todos observem a importância do papel da imprensa em fatos da história brasileira. “Só respeitando a liberdade de expressão, poderemos ter uma sociedade mais justa”, diz Luiz Adolfo Lino de Souza, vice-presidente da ARI.
O Jornalecão apoia as mídias livres e o livre exercício do jornalismo
Em apoio à liberdade de expressão, ao livre exercício da profissão de jornalista e às mídias livres, o jornal O Jornalecão, que atua há 30 anos como um porta-voz da comunidade da Zona Sul Porto Alegre, expressa seu veemente repúdio à decisão judicial que enquadrou como réu um jornalista que estava em atividade, realizando uma cobertura jornalística. A principal preocupação é de que, além da possível aplicação de uma punição injusta, o caso represente um retrocesso para a imprensa livre, que ousa ir atrás do fato, amedrontando e desencorajando os pequenos veículos e os jornalistas independentes, para os quais já é tão difícil dedicar-se à produção de conteúdo exclusivo, a exercer plenamente o exercício de sua profissão.