Após décadas, árvores da orla de Ipanema voltam a ter barbas-de-pau

A planta, da família das Bromeliace, é considerada indicadora de qualidade do ar

 


Na década de 80, o bairro Ipanema era bem diferente de como é hoje. Entre as muitas mudanças que aconteceram durante esses quase 40 anos, naquela época o calçadão, na orla de Ipanema, ainda não estava urbanizado, existiam bares praticamente dentro da praia e as chaminés da empresa de celulose do outro lado de Guaíba, que se chamava Borregaard, exalavam um cheiro extremamente desagradável. Quem viveu essa época deve lembrar que ainda era possível ver na vegetação da orla a famosa barba-de-pau, uma planta da família Bromeliace que cresce na copa nas árvores, parece com uma barba acinzentada, e era muito usada para fazer ninhos durante a Páscoa de antigamente.
     Como a barba-de-pau não sobrevive onde há ar muito poluído, a crescente urbanização fez a sua quantidade reduzir drasticamente em Ipanema, a partir da década de 90, até desaparecer por completo da orla. Não à toa, a barba-de-pau também passou a ser mais uma das espécies em risco de extinção no estado do Rio Grande do Sul, já que é uma planta que não sobrevive onde o ar é muito poluído. Como não possui raiz e retira seus nutrientes diretamente da atmosfera, a barba-de pau precisa de muita umidade no ar para sobreviver, além de um ar mais limpo. Por essa razão, a presença da barba-de-pau é considerada um indicador de qualidade do ar.
A boa notícia é que, se você andar no calçadão de Ipanema, hoje, e olhar para a copa das árvores, principalmente pela região em frente ao Clube do Professor Gaúcho, vai perceber que a vegetação de barba-de-pau, aos poucos, começa a se restabelecer na orla, indicando que o ar da região voltou a ficar suficientemente limpo para que esse tipo de planta sobreviva. A má notícia, no entanto, é que, se forem mesmo derrubados os quase 10 hectares de mata nativa previstos para a construção do Loteamento Ipanema, a condição para que essa e outras espécies de plantas (e também animais) sobrevivam reduz drasticamente. Não apenas pela perda de umidade do ar que a derrubada das árvores traria, mas também pelo impacto e pela poluição consequentes que o aumento na quantidade de pessoas geraria para o saneamento, o tráfego viário e o equilíbrio ecológico da região. Enquanto ainda existem exemplares de barbas-de-pau, cuidemos, preservemos e, sobretudo, admiremos de longe, sem arrancar e levar para casa, como a população fazia antigamente.