O SABIdo, fundado em 1954 na Zona Sul da cidade, mostrou o caminho para dezenas de jornais de bairro nas décadas seguintes
A Zona Sul é conhecida como o berço dos jornais de bairro de Porto Alegre. Nela, foram fundados os primeiros veículos deste tipo na cidade e, hoje, entre os remanescentes, está O Jornalecão, que, em 2022, completará 35 anos de existência e que, atualmente, é o mais antigo jornal de bairro em circulação na capital gaúcha.
Esta história de parceria da população da Zona Sul com os jornais que se dedicaram a atender a comunidade teve grande impulso nas décadas de 80 e 90 e na primeira década do século 21, quando a região contava com, pelo menos, três grandes jornais de bairro (O Jornalecão, CS Zona Sul e Destak). Mas, já em 1984, no bairro Ipanema, havia surgido O Bairrista, que, por 15 anos, foi considerado o primeiro jornal de bairro de Porto Alegre.
No entanto, no ano 2000, dois exemplares do jornal de bairro Colmeia (editado no bairro por Odemar Marino Ferlauto, em 1967, também no bairro Ipanema, guardados por mais de 30 anos pelo pesquisador Hélio Ricardo Alves, revelaram que a ligação entre a Zona Sul e os jornais de bairro era muito mais antiga. O fato foi uma grande surpresa, pois a existência do jornal, que foi muito importante para a mobilização comunitária, por ser um veículo da Associação Comunitária e Assistencial de Ipanema (Ascai), mas ainda havia muito mais a ser descoberto.
Na época, o saudoso senhor Hélio pensava estar apenas contribuindo com meu trabalho de conclusão de curso de Jornalismo, que tratava da história dos jornais de bairro, mas, na verdade, estava fazendo muito mais. Em um dos exemplares do O Colméia (que tinha muitas das características dos jornais de bairro atuais), um texto revelava a existência anterior de um jornal que o havia inspirado, intitulado O SABIdo, fundado em 1954 e também editado por Ferlauto, porém para a Sociedade Amigos dos Balneários de Ipanema, a mesma SABI que está sediada, até hoje, no bairro Ipanema e próxima de completar 70 anos de história.
Se a redescoberta da existência de O SABIdo ampliou em 30 anos a história conhecida dos jornais de bairro de Porto Alegre, seus exemplares ficaram desaparecidos por mais quase 20 anos, até que a coleção completa foi recuperada. Por sorte, em 2019, Beto Abel (Betinho) também se engajou nesta busca e, conversando com James de Azevedo Bajczuk, descobriu que a mãe do amigo, Cenira de Azevedo Bajczuk, filha do primeiro presidente da SABI (José Maria Barcelos de Azevedo), havia guardado todos os exemplares de O SABIdo, de 1954 a 1958. Devido à raridade, os exemplares seguem muito bem guardados pela família de James, mas cópias digitalizadas estão à disposição para pesquisa de interessados em comunicação e também no desenvolvimento do bairro Ipanema, que, na época, era considerado um balneário.
A espera foi longa, mas o reaparecimento de O SABIdo, além de uma festejada surpresa, após tantos anos desaparecido, recupera os primórdios da história do jornalismo comunitário, que floresceu e segue perseverando, desde a década de 50, na Zona Sul da capital, graças ao idealismo e à perseverança de Odemar Ferlauto e outros saudosos vizinhos que entenderam, há 67 anos, como é importante a população estar bem informada e unida. Como legado, estes pioneiros (incluindo, Odemar Ferlauto, que tive o prazer de conhecer após a redescoberta de seu pioneirismo) deixaram sementes que germinaram, entre as quais, O Jornalecão, que segue, desde 1987, em sua missão de ser porta-voz e defensor da Zona Sul e de seus moradores, demonstrando que a lição de unir a comunidade e buscar o bem comum foi muito bem aprendida pelas gerações seguintes de moradores e admiradores do “nosso lugar” em Porto Alegre.
Gustavo Cruz da Silveira
Fundador de O Jornalecão